Mãe Stella é a primeira sacerdotisa do culto afro no Brasil a ocupar uma cadeira na Academia de Letras. O Fato histórico aconteceu no último dia 12 de setembro de 2013.
Discurso de posse de Mãe Stella de Oxóssi na Cadeira nº 33
da
Academia de Letras da Bahia
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Mãe Stella na Academia de Letras Da Bahia
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Em 1910, Mãe Aninha fundou, em Salvador, na Bahia, o terreiro de
candomblé Ilé Àÿç Opo Afonjá, hoje mundialmente conhecido e respeitado. Mulher
com a cabeça muito além de seu tempo, ela costumava dizer que queria ver seus
filhos com anel no dedo servindo a ßàngó: oríÿa para quem consagrou sua cabeça e
patrono da Casa de Culto aos Oríÿa que criou, mas que deixou de herança para
todos nós, seus descendentes espirituais.
Se
a cabeça de Mãe Aninha foi consagrada; sua língua ganhou axé, ganhou força. Sua
fala é uma sentença que seus filhos espirituais procuram obedecer e cumprir,
como manda a sabedoria ancestral. Foi isso que também eu fiz, tanto que hoje me
encontro aqui, na ilustre Academia de Letras da Bahia para ser empossada na
cadeira 33. A sentença de mãe Aninha é mais profunda do que normalmente se
costuma interpretar: receber um anel é símbolo de aceitação de um compromisso. A
vanguardista senhora desejava que seus descendentes se comprometessem com as
causas sociais e espirituais. Desejo de Mãe Aninha que se tornou de todas as
iyáloríÿa que a sucederam. Esse também é meu desejo: comprometer-me com tudo que
assumo, seja no âmbito social, seja no âmbito
espiritual.
Quando fui iniciada para o oríÿa Õÿösi, pelas mãos de Mãe Senhora,
uma das filhas diletas de Mãe Aninha, eu tinha apenas catorze anos de idade. Em
1939, uma pessoa com essa idade era uma criança, que apenas obedecia a ordens,
sem questionar o que lhe mandavam fazer. Se minha cabeça física sentia tudo
aquilo como uma grande brincadeira, minha cabeça espiritual entendia que eu
estava me comprometendo com algo muito sério. Ao ser iniciada, consagrei-me a
Õÿösi. Tinha, então, compromisso com essa divindade, com minha mãe de santo, de
saudosa memória, e com toda família Opo Afonjá. Meu compromisso não foi selado
com um anel. Ele foi selado com correntes fininhas, que simbolizam elos de uma
grande corrente que une o Àiyé e o Õrun, os homens e os deuses, o profano e o
sagrado. Eu carregava elos de todas as cores: um arco-íris, uma ponte que me
fazia transitar, ir e vir, da Terra ao Céu e do Céu à Terra. Em minha inocência,
eu não entendia que aquelas correntes fininhas comunicavam aos deuses que eu era
ainda um elo frágil, que precisava de energia, de àÿç, para me tornar um elo
forte, capaz de segurar muitos outros elos.
Foi assim que aos 51 anos de idade fui escolhida pelos búzios,
consequentemente, pelos deuses, para ser iyáloríÿa – mãe de oríÿa, aquela que dá
nascimento à essência sagrada de algumas pessoas. Minhas guias fininhas foram
substituídas por grossas, grossíssimas guias. Eu já não tinha a inocência dos
catorze anos e pude compreender que eu passava a ser um forte elo, sobre o qual
se esperava que fosse capaz de segurar e apoiar todos aqueles que buscassem
força para atingir degraus mais elevados na existência humana. Uma mãe, no colo
de quem muitos buscam conforto, consolo e encantamentos, porque não dizer
feitiços, para facilitar a caminhada por este planeta. Ninguém é empossada
iyáloríÿa antes de sentar na cadeira especialmente preparada para este mister.
Corrente e cadeira, objetos de grande valor simbólico tanto para a religião que
pratico – o candomblé, quanto para a Academia de letras na qual agora sou
empossada.
Hoje, aos oitenta e
oito anos de idade, estou eu recebendo, outra vez, uma corrente, que segura uma
linda medalha, e também mais uma cadeira. A medalha me faz lembrar o quão
honrosa devo procurar fazer minha caminhada; a corrente, o sustentáculo desta
medalha, demonstra o pacto agora firmado com os objetivos da Academia de Letras
da Bahia; a cadeira deixa de ser apenas um lugar de assento, para se transformar
em um trono simbólico, onde ilustres cidadãos se imortalizaram. Sou agora mais
um elo dessa corrente que me liga aos outros elos, meus confrades e confreiras,
estejam eles presentes em vida ou em obra. Analisando a palavra cadeira,
descubro que esta vem do latim “cathedra”, significando cadeira de braços que
confere uma imponência a quem nela se senta. Dessa palavra também deriva o termo
catedral, local onde se encontra instalada uma autoridade religiosa. Quando se
diz que alguém conhece um assunto “de cathedra”, sobre este se deseja afirmar
que ele tem um domínio sobre o tema em voga.
Não sou uma literata “de cathedra”, não conheço com profundidade as nuanças da língua portuguesa. O que conheço da nobre língua vem dos estudos escolares e do hábito prazeroso de ler. Sou uma literata por necessidade. Tenho uma mente formada pela língua portuguesa e pela língua yorubá. Sou bisneta do povo lusitano e do povo africano. Não sou branca, não sou negra. Sou marrom. Carrego em mim todas as cores. Sou brasileira. Sou baiana. A sabedoria ancestral do povo africano, que a mim foi transmitida pelos "meus mais velhos" de maneira oral, não pode ser perdida, precisa ser registrada. Não me canso de repetir: o que não se registra o tempo leva. É por isso e para isso que escrevo. Compromisso continua sendo a palavra de ordem. Ela foi sentenciada por Mãe Aninha e eu a acato com devoção. Em um dos artigos que escrevi, eu digo: Comprometer-se é obrigar-se a cumprir um pacto feito, tenha sido ele escrito ou não. O verbo obrigar, que tem origem no latim obligare, significa unir. Portanto, quando dizemos um “muito obrigado”, estamos sugerindo a alguém que nos fez um favor que a ele estaremos ligados, em virtude do favor que nos foi prestado. Obrigação é uma das palavras chaves do candomblé: aquela que abre muitas portas. Fazer uma obrigação ou a obrigação, fica sendo, então, uma forma de estar cada vez mais unido aos oríÿa.
Não sou uma literata “de cathedra”, não conheço com profundidade as nuanças da língua portuguesa. O que conheço da nobre língua vem dos estudos escolares e do hábito prazeroso de ler. Sou uma literata por necessidade. Tenho uma mente formada pela língua portuguesa e pela língua yorubá. Sou bisneta do povo lusitano e do povo africano. Não sou branca, não sou negra. Sou marrom. Carrego em mim todas as cores. Sou brasileira. Sou baiana. A sabedoria ancestral do povo africano, que a mim foi transmitida pelos "meus mais velhos" de maneira oral, não pode ser perdida, precisa ser registrada. Não me canso de repetir: o que não se registra o tempo leva. É por isso e para isso que escrevo. Compromisso continua sendo a palavra de ordem. Ela foi sentenciada por Mãe Aninha e eu a acato com devoção. Em um dos artigos que escrevi, eu digo: Comprometer-se é obrigar-se a cumprir um pacto feito, tenha sido ele escrito ou não. O verbo obrigar, que tem origem no latim obligare, significa unir. Portanto, quando dizemos um “muito obrigado”, estamos sugerindo a alguém que nos fez um favor que a ele estaremos ligados, em virtude do favor que nos foi prestado. Obrigação é uma das palavras chaves do candomblé: aquela que abre muitas portas. Fazer uma obrigação ou a obrigação, fica sendo, então, uma forma de estar cada vez mais unido aos oríÿa.
Se minha parte branca estuda as origens latinas da língua
portuguesa, minha parte negra estuda a língua africana de que fazemos uso no
candomblé: o yorubá arcaico. Nessa língua, comprometer-se é wulewu, palavra que
tem a seguinte análise: a raiz wù (agradar), a mesma que forma a palavra wúlò,
que significa útil; e lé, que é traduzida como seguir em frente, procurando não
ser mais um na multidão. Para o povo yorubá e, consequentemente, para os
brasileiros que se guiam pela religião nagô, uma pessoa comprometida é aquela
que é útil, pois cumpre a função que lhe foi destinada, e por isto pode seguir
em frente, distinguindo-se da massa uniforme; uma pessoa comprometida é
especial, pois já encontrou sua especificidade, tornando-se, assim,
imortal.
É
considerado imortal todo aquele que fez ou faz de sua vida uma obra a ser lida,
a ser internalizada. É objetivo da Academia de Letras da Bahia manter viva, na
memória de todos, a contribuição que ilustres homens e mulheres deram, no
sentido de colaborar para o aperfeiçoamento da sociedade e da humanidade. Se um
dia, no Ilé Àÿç Opo Afonjá, eu recebi grossas correntes que simbolizam elos de
união com os oríÿa, com meus ancestrais e meus descendentes espirituais; hoje
recebo uma corrente que me une a todos que um dia pertenceram e os que ainda
pertencem a esta nobre instituição. Honrada estou por ter sido escolhida para
sentar na cadeira 33, que tem como patrono um ser tão especial quanto Castro
Alves e que foi ocupada pelos imortais: Francisco Xavier Ferreira Marques,
Heitor Praguer Fróes, Waldemar Magalhães Mattos e Ubiratan Castro de
Araújo.
Se
meu discurso tem como base o comprometimento, sigo rememorando os primeiros
acadêmicos que ocuparam a cadeira 33. Francisco Xavier Ferreira Marques foi a pedra fundamental da
cadeira 33. Imortal também pela Academia Brasileira de Letras, onde foi o
segundo ocupante da cadeira 21. No prefácio de sua obra O Feiticeiro, é citada
uma fala do advogado sergipano Jackson Figueredo, através da qual se pode sentir
a imortalidade desse homem da política, que era autodidata em literatura:
“Xavier Marques merecerá o amor de todo o povo brasileiro, na proporção em que
for crescendo a nossa consciência nacional. Tê-lo-á todo, quando levarmos não só
à pompa dos programas, mas as escolas, o culto do nosso passado. Quando os
nossos homens públicos se derem a esta obra, com menos frases e mais seriedade,
os livros de Xavier Marques irão parar às mãos da infância e educá-la para a
formação da alma brasileira”. Xavier Marques foi um jornalista e político que
nasceu em 3 de dezembro de 1861, na prazerosa Ilha de Itaparica, o que
contribuiu para que sua literatura encontrasse nos temas praieiros uma fonte de
inspiração. Escrever era sua grande paixão. Poeta, romancista e ensaísta, foi
com a novela Jana e Joel que a crítica o consagrou.
A imortalidade de uma pessoa pode estar em sua vida, em sua obra,
em sua descendência. Xavier Marques partiu do planeta em que vivemos em 30 de
outubro de 1942, mas aqui deixou seu neto, o músico Celso Xavier Marques, hoje
com 71 anos, o qual vem dedicando grande parte de sua vida e de sua obra musical
a memória do avô, a quem chama carinhosamente de "meu velho escritor
itaparicano". O neto não teve o prazer e a alegria de conhecer o avô na vida
física, o que não impediu que entre eles fosse firmada uma bonita ligação
espiritual. Foi, provavelmente, essa ligação que inspirou o neto de Xavier
Marques a escrever um hino em tributo a seu avô, o qual se constitui uma
verdadeira biografia sobre o mesmo. A arte musical de Celso Xavier Marques
contribui, assim, para tornar a obra de Francisco Xavier Ferreira Marques ainda
mais imortal. Celso Xavier Marques traz na letra um elenco dos títulos dos
livros publicados por Francisco Xavier Ferreira Marques, os quais são seus
trabalhos mais conhecidos, lidos e apreciados: A cidade encantada, A arte de
escrever, As voltas da estrada, Jana e Joel, O feiticeiro, Holocausto, Os
praieiros, Mar azul, A boa madrasta, Maria Rosa, O arpoador, Sargento Pedro,
Insulares, Terras mortas, Pindorama, Terra das palmeiras. Onde estiver, o grande
político e escritor baiano há de escutar seu neto cantar: "Deus criou, tão
sublime, a sua pena magistral. Fez Xavier Marques,
imortal".
O
imortal Xavier Marques deixou sua cadeira para ser ocupada por Heitor Praguer
Fróes. Filho da histórica e cultural cidade de Cachoeira, nascido no dia 25 de
setembro de 1900. Praguer Fróes foi poeta, tradutor, médico e professor. Foi
membro não apenas da Academia de Letras da Bahia, mas também de inúmeras outras
instituições científicas e culturais, como a Academia de Medicina da
Bahia.
Praguer Fróes escrevia com sacrifício. Eu faço uso dessa palavra
não no sentido comum que ela possui, como sinônimo de dificuldade, mas em seu
sentido original. Escrever para Praguer Fróes era um ofício sagrado, sobre o
qual ele dizia: “Quem escreve um livro e o revê e publica passa pelo paraíso e
pelo inferno: Pelo paraíso, quando compõe; pelo purgatório, quando retoca; pelo
inferno, quando imprime. Pelo paraíso, quando compõe, porque nada é mais
agradável do que criar; pelo purgatório, quando retoca, porque nada é tão
fastidioso quanto modificar; pelo inferno, quando imprime, porque nada é mais
enervante que estar interminavelmente a corrigir”. E foi, pensando e sentindo
assim, que Praguer Fróes somou em sua biografia livros de poemas, contos,
contrafábulas e inúmeras obras científicas. Sacralizar um ofício é um
comportamento típico de quem se preocupa e se ocupa com a humanidade. Tanto que
Praguer Fróes chegou a abdicar dos direitos autorais de seu livro Lições de
Medicina Tropical, em benefício do então futuro Hospital das Clínicas. Praguer
Fróes era um humanista nato, pois herdou de seus pais a consciência
cidadã.
Não se pode nem se deve falar de Heitor Praguer Fróes, sem falar de
sua família. Pai, mãe e filho, todos eles médicos que dedicaram a vida a salvar
vidas. Sua mãe, Francisca Praguer Fróes, foi uma das primeiras mulheres formadas
em Medicina, pioneira em todas as áreas em que atuou, principalmente na defesa
dos direitos femininos. Ela dizia: "Eu sou feminista por herança e convicção";
"A inferioridade da mulher não é fisiológica, nem psicológica; ela é social. Sua
escravidão sexual determina sua dependência econômica". O pai de Heitor Praguer
Fróes, João Américo Garcez Fróes, foi tão "singular figura humana" que quando
precisava interferir no comportamento de um estudante de Medicina, de modo a
impedir que este fizesse o doente sofrer desnecessariamente, delicadamente dizia
em latim: "Non vi, sed arte!” ("Não pela força, sim pela
arte!").
O que nosso confrade o jornalista Jorge Calmon diz sobre o pai de
Heitor Praguer Fróes é o princípio que faz de um membro da Academia de Letras da
Bahia um imortal; é o principio que faz de qualquer pessoa, letrada ou não, um
imortal. Ele diz: "Efetivamente, há homens que se tornam instituições. São
Poucos. Constituem exceções. A regra geral é o bitolamento medíocre dos
inumeráveis componentes do rebanho humano, que a lei da vida vai tangendo, em
marcha entre o nascimento e a morte. Nessa indistinta mediania, as inteligências
não brilham, o esforço não avulta, o caráter não logra atingir forma,
consistência. É a grande planície dos homens comuns. Vez por outra, desse solo
rasteiro sobressai uma eminência. O talento, a virtude, o mérito rompem a
vulgaridade e projetam de entre a massa os indivíduos bem dotados, ou que a si
mesmo se dotam, e cuja ascensão proclama as faculdades superiores da pessoa
humana. Foi Garcez Fróes um desses raros indivíduos".
Em
25 de outubro de 1987, Heitor Praguer Fróes seguiu seu caminho rumo ao reino
divinal, para encontrar esta linda família que deixou para todos nós um exemplo
de vida registrado em livros.
Seguindo a lei da
vida, Heitor Praguer Fróes deixou sua cadeira para ser ocupada por Waldemar
Magalhães Mattos, que nasceu na cidade de Entre Rios, em 13 de setembro de 1917,
e viveu na Terra por 86 anos. Era homem de números e letras. Bacharel em
Ciências Contábeis, ingressou na carreira literária em 1940 pelo caminho
jornalístico. O conjunto de sua obra é de um valor histórico imprescindível para
a compreensão da Bahia e, consequentemente, do Brasil do século XIX. Tanto que
em 2011, século XXI, portanto, dois de seus livros foram reeditados: Panorama
Econômico da Bahia e O Palácio da Associação Comercial da Bahia, no qual
Waldemar Mattos narra o baile que comemorou, em 1911, o centenário da Associação
Comercial da Bahia, fundada em 15 de Julho de 1811: “Suntuoso no seu
deslumbramento inexcedível, cheio de encantadora poesia e fulgurante pompa. Sem
contestação, foi uma cerimônia de destaque excepcional, cujas impressões os
anais das crônicas baianas guardarão para sempre".
Waldemar Mattos também escreveu o livro A Bahia de Castro Alves e foi na sede da Associação Comercial da Bahia que o conclamado Poeta dos Escravos, na verdade poeta dos fracos e oprimidos, fez sua última declamação pública. Na tarde do dia 10 de fevereiro de 1871, apenas cinco meses antes de deixar esta vida, Castro Alves recitou o poema No meeting du Comité du Pain durante uma reunião filantrópica promovida pela colônia francesa em benefício das crianças desvalidas da Guerra Franco-Prussiana.
Waldemar Mattos também escreveu o livro A Bahia de Castro Alves e foi na sede da Associação Comercial da Bahia que o conclamado Poeta dos Escravos, na verdade poeta dos fracos e oprimidos, fez sua última declamação pública. Na tarde do dia 10 de fevereiro de 1871, apenas cinco meses antes de deixar esta vida, Castro Alves recitou o poema No meeting du Comité du Pain durante uma reunião filantrópica promovida pela colônia francesa em benefício das crianças desvalidas da Guerra Franco-Prussiana.
Waldemar Mattos ligou-se ao patrono da cadeira 33 ao escrever o
livro A Bahia de Castro Alves. E ligou-se a mim, atual ocupante desta honrosa
cadeira, por ter ele escrito sobre Dona Francisca de Sande, a primeira
enfermeira do Brasil. Afinal, eu hoje sou Mãe Stella, uma iyáloríÿa que orienta
as pessoas no sentido de cuidarem do espírito, mas um dia fui Maria Stella de
Azevedo Santos, uma enfermeira que orientava sobre os cuidados com o corpo
físico.
Deixei para falar por último sobre meu antecessor, Ubiratan Castro
de Araújo – Bira Gordo – e sobre o patrono da cadeira que hora ocupo Castro
Alves – O Poeta dos Escravos –, pelos laços que nos unem. Cada um de nós lutando
por honrar e glorificar um povo que, mesmo chegando escravizado ao Brasil, soube
fazer história, ajudando na formação de nosso país em todas as áreas. Cada um de
nós lutando por esse ideal de acordo com a época em que viveu e com os dons que
recebeu do Deus Supremo: A alma poética de Castro Alves gritou clamando pela
liberdade física dos negros; Bira Gordo, com sua capacidade única de contar a
história e estórias, tudo fez para mostrar a contribuição indiscutível deste
povo; eu, como cultuadora de divindades, rogando sempre para que o orgulho que
agora estou sentindo não faça com que minha jornada espiritual seja maculada,
sigo esforçando-me no sentido de fazer com que a religião trazida pelo povo
africano para o Brasil seja melhor compreendida e, assim, mais
respeitada.
Em um discurso tão
longo, tudo fiz para não cansar os ouvintes. Não sei se estou conseguindo, mas
em respeito a meu grande amigo e antecessor na cadeira 33, o historiador
Ubiratan Castro de Araújo, tentei alcançar este feito procurando construir meu
discurso de posse narrando fatos de modo histórico, mas com a leveza de uma
contadora de "causos". Como disse anteriormente, Bira Gordo foi um grande
contador da história e de estórias. Nascido em Salvador, em 22 de dezembro de
1948, o Professor Doutor Ubiratan Castro de Araújo foi graduado em História,
pela Universidade Católica do Salvador e em Direito pela Universidade Federal da
Bahia. Um estudioso por natureza, fez mestrado em História na Université de
Paris X, Nanterre, e doutorado em História na Universite de Paris IV
(Paris-Sorbonne). O fato de ter recebido o Troféu Clementina de Jesus da União
dos Negros pela Igualdade e a Medalha Zumbi dos Palmares da Câmara Municipal de
Salvador mostra o reconhecimento pelo empenho de Bira Gordo contra a
discriminação racial. Foram inúmeras as vezes que nos encontramos em seminários,
e outros encontros de ordem semelhante, para reafirmar a grandeza histórica do
povo negro e sua sabedoria ancestral, que é capaz de orientar qualquer um que
dela se aposse. Afinal, sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma raça
específica.
A frágil saúde de Bira Gordo, como gostava de ser chamado, não o impediu de dar uma grande contribuição ao mundo intelectual e de transmitir alegria por onde passava e para todos com quem convivia. Sua prestabilidade era incontestável! Nunca se negava a participar de nenhum evento para o qual fosse convidado a contribuir com sua forma única de estoriar a história. Intelectual cinco estrelas; contador de "causos" de estrelas incontáveis. Bira registrou pouco seus vastos conhecimentos.
A frágil saúde de Bira Gordo, como gostava de ser chamado, não o impediu de dar uma grande contribuição ao mundo intelectual e de transmitir alegria por onde passava e para todos com quem convivia. Sua prestabilidade era incontestável! Nunca se negava a participar de nenhum evento para o qual fosse convidado a contribuir com sua forma única de estoriar a história. Intelectual cinco estrelas; contador de "causos" de estrelas incontáveis. Bira registrou pouco seus vastos conhecimentos.
Foram apenas três os livros
por ele escritos: A Guerra da Bahia, Salvador Era Assim - Memórias da Cidade e
Sete Histórias de Negro. Editou pouco, mas falou muito, muito, muito... E era
uma fala deliciosa de ser ouvida. Em seu único livro de ficção, Sete Histórias
de Negro, ele conseguiu reunir muito do que era, sabia e lutava. Para dizer o
que Bira era, sabia e lutava, tomarei emprestado o que seu amigo, o jornalista e
escritor, Emiliano Queiroz, disse sobre ele: "Quando a barra pesava, quando
algum problema o atormentava, Bira punha-se a cantarolar como a se convencer de
que os orixás pudessem socorrê-lo ou simplesmente como uma maneira de afastar os
maus olhados e buscar socorro na poesia, que ela sempre ajuda - quanto mais
quando a alma não é pequena, e a dele era do tamanho do mundo". Concordo, por
experiência própria, com a opinião de Emiliano Queiroz sobre Bira: "O mestre que
compartilhava sua erudição como quem contasse histórias à beira da
fogueira".
Um
exemplo claro dessa capacidade que tinha Ubiratan Castro, um intelectual do
povo, é a última história escrita em seu livro Sete Histórias de Negro.
Intitulada "O Protesto do Poeta", a referida história é muito adequada para este
discurso, uma vez que narra uma conversa que acontece em uma sessão espírita
entre Castro Alves e um grupo de pessoas. Como bom piadista que era, não escapou
da mente criativa de Bira Gordo nem o patrono da cadeira que ocupava na Academia
de Letras da Bahia. Para Bira, a vida parecia ser uma piada e a piada uma coisa
muito séria. Condensada de maneira irônica no "causo" do protesto do poeta, Bira
conta a trajetória da libertação dos escravos no Brasil ocorrida no passado,
alertando para a necessidade constante por uma luta pela liberdade, pois as
correntes de ferro, antes visíveis, são, no presente, correntes imperceptíveis,
que marginalizam e excluem.
Bira Gordo nos deixou há pouco tempo, em 3 de janeiro do ano em curso. Se hoje ainda estivesse conosco,
digo fisicamente, é provável que buscasse na poesia de Castro Alves a força que
precisamos para continuar enaltecendo um povo guerreiro, ao mesmo tempo pacífico
e afetuoso, que soube amar e amamentar quem os
escravizou.
Muitas pessoas, no passado e no presente, lutaram para que hoje eu pudesse, de maneira natural, fazer parte desta Academia. Uma delas foi o patrono da cadeira onde me firmo. Antônio Frederico de Castro Alves entoou gritos poéticos na tentativa de despertar a sociedade brasileira para a mais cruel de todas as atitudes humanas: a privação da liberdade. Em 1868, através de seu poema "Vozes d'África", ele clamou:
Muitas pessoas, no passado e no presente, lutaram para que hoje eu pudesse, de maneira natural, fazer parte desta Academia. Uma delas foi o patrono da cadeira onde me firmo. Antônio Frederico de Castro Alves entoou gritos poéticos na tentativa de despertar a sociedade brasileira para a mais cruel de todas as atitudes humanas: a privação da liberdade. Em 1868, através de seu poema "Vozes d'África", ele clamou:
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
- Infinito: galé! ...
Por abutre - me deste o sol candente,
E a terra de Suez - foi a corrente Que me ligaste ao pé...
Se minha bisavó chegou ao Brasil presa a muitos outros negros africanos, amarrada por correntes que lhe tiraram o maior de todos os bens que pode ter qualquer ser vivo – a liberdade, hoje aqui me encontro acorrentada por um adorno que me une a todos os baianos, brasileiros, humanos, letrados ou não letrados. O Poeta dos Escravos desejava ver todos os homens tratados com igualdade de condições; queria ver desacorrentados os negros escravizados. Por isso, Castro Alves escreveu um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, "O Navio Negreiro", no qual denunciava as atrocidades sofridas pelos africanos na travessia oceânica que foram obrigados a se submeterem:
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
O baiano Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847 na fazenda Cabaceiras, antiga freguesia de Muritiba, que é hoje a cidade de Castro Alves. Era dotado de uma constituição física frágil, mas de uma forte alma humanizada, que contestava as barbaridades típicas da época em que viveu – o século XIX. Foi corajoso o suficiente para que, com apenas 21 anos de idade, obrigasse os fazendeiros donos de escravos a escutá-lo recitar "O Navio Negreiro", pois estando todos em uma comemoração cívica não seria politicamente correto retirar-se do recinto.
A poesia de caráter social de Castro Alves era típica da terceira geração do Romantismo brasileiro, chamada Condoreira, pois o condor é uma ave símbolo de liberdade. Representante da burguesia liberal, Castro Alves foi o último grande poeta da geração Condoreira que, por meio da literatura, instigava o povo para exigir a abolição da escravidão e a proclamação da república, aproximando, assim, o Romantismo do gênero literário seguinte – o Realismo.
Se as causas sociais
eram o ideal de Castro Alves, o amor era sua fonte de inspiração. E como são
lindos seus poemas de amor. Escutemos com a alma seu poema "As Duas Flores", que
na Escola Nossa Senhora Auxiliadora, de propriedade da professora Anfrísia
Santiago, eu costumava recitar para minhas colegas no horário de
recreio:
São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Intensamente viveu Castro Alves a sua curta vida de 24 anos. Em 6 de julho de 1871 ele não pode mais sentir na carne os prazeres do amor. Também não pôde ver os escravos desacorrentados, não pôde assistir a seu ideal concretizado. Mas sua curta vida é longa. Estamos hoje, aqui, nos deleitando com seus versos. Uma senhora de 96 anos, falando sobre seu primo Castro Alves, um dia me disse: "Por amor ele viveu, por amor ele morreu. Mas quem morre por amor não morre: torna-se imortal."
Eu
sou o quinto elo da correte que forma a cadeia de iyáloríÿa do Ilé Àÿç Opo
Afonjá. Eu sou a quinta pessoa a ocupar a cadeira 33 da Academia de Letras da
Bahia. O número cinco é meu guia. Há setenta e quatro anos atrás, nesta mesma
data, eu fui iniciada para o oríÿa caçador – Õÿösi. Hoje é uma quinta-feira, dia
consagrado a meu oríÿa. Nada disso foi programado, nada disso é coincidência. É
magia e destino!
Na
cadeira 33, e em todas as outras que compõem esta nobre instituição, cabe
pessoas de todas as profissões, cores, religiões, estilos literários... Na
cadeira 33, e em todas as outras desta instituição, só não cabe vaidade, nem
modéstia. Não sendo vaidosa, digo que, com certeza, não fui escolhida para ser
uma acadêmica pelo fato de escrever livros com sofisticação gramatical. Não
sendo modesta, tenho a convicção de que se hoje aqui estou é por escrever minhas
experiências de modo a cumprir meu compromisso sacerdotal. Não se esqueçam que
compromisso e união são as bases em que meu discurso foi fundamentado. Sentar-me
na cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia era meu
destino.
O que escreveu meu
confrade Paulo Costa Lima, quando fui escolhida para esta confraria, transmite
com perfeição meus pensamentos sobre esse novo envolvimento em minha vida. Ele
assim pensou e escreveu: "Hoje, 25 de abril, a Academia de Letras da Bahia jogou
os búzios e o nome que apareceu foi o de Mãe Stella de Oxossi, para ocupar a
cadeira cujo patrono é Castro Alves, sendo o grande historiador baiano Ubiratan
Castro o último ocupante. A escolhida se fez presente logo após a votação para o
abraço e a manifestação do compromisso. Foi uma bela cena, e muito rara. Um
encontro de erudições da África e da Europa. Na verdade, um gesto inovador que
não pode deixar de ser levado em conta como paradigma de abertura de horizontes
e de convivência das diferenças... na luta de afirmação da tradição
afro-brasileira e, portanto, pelo respeito aos direitos à alteridade e
identidade própria.Diante da contribuição civilizatória que a África trouxe
ao Brasil, alguns preferem calar, outros reconhecem mas acentuam a natureza oral
dos conhecimentos e saberes. Mãe Stella
rompeu essas barreiras (entre tantas), e passou a defender uma representação
mais sintonizada com os novos tempos, conectando oralidade e manifestações
letradas...."
Como já disse, sou bisneta de portugueses e africanos. Essas duas
descendências não são somente minhas. São do Brasil. Quantas e quantas vezes
estamos falando palavras de origem africana, pensando estar falando em
português? Tôrô é chuva, görô é cachaça, gògó é garganta, todas elas palavras da
língua yorubá, que precisam ser preservadas em sua origem. Talvez muitos tenham
estranhado, em alguns momentos do discurso, ser falado os oríÿa, as iyáloríÿa.
Não é erro. É que na língua yorubá as flexões gramaticais, no que se refere a
número, são construídas de maneira diferente da língua portuguesa. Essa herança
faz com que muitas vezes o povo fale uma mistura de português com yorubá. Sobre
os dialetos africanos, a confreira Ieda Pessoa de Castro conhece o assunto de
cathedra. Escrevo com a intenção maior de salvaguardar a língua e a sabedoria de
meus ancestrais africanos, pois tendo sido este povo ignorado por séculos, seus
conhecimentos correm o risco de serem esquecidos ou transmitidos de maneira
deturpada.
Ser iniciada aos catorze anos de idade, fez com que eu tivesse a
vantagem da inocência. Sem saber da responsabilidade que me esperava, eu
brincava de caçador. Afinal, fui consagrada para o oríÿa Õÿösi – a divindade
caçadora. Na minha mocidade, pude conciliar a profissão com a religião, cuidando
do ser humano como enfermeira sanitarista durante trinta e cinco anos, quando me
aposentei, ao tempo em que servia também aos deuses.
Curiosamente, alguns mais velhos insistiam em me repassar os
conhecimentos que possuíam sobre os fundamentos do candomblé. Em uma época em
que nossa tradição era transmitida apenas oralmente, Bida de Iyemonjá, por
exemplo, contrariava o costume e de maneira obstinada mandava que eu anotasse
nossas conversas. Muito tímida e respeitosa, não era fácil fazer o que ela
mandava.
Com o passar do tempo, entendi que os mais velhos queriam munir-me
de conhecimentos, pois cada dia eu recebia mais informações. Só em dezenove de
março de mil novecentos e setenta e sete, quando fui escolhida iyáloríÿa do
terreiro de candomblé onde fui iniciada – o Ilé Àÿç Opo Afonjá, na Bahia –, é
que pude enfim compreender o porquê de toda aquela atenção para comigo. Nos anos
que se seguiram, não apenas os mais velhos, mas também pessoas mais novas me
enviavam importantes materiais de pesquisa sobre a religião que nos foi legada
pelos africanos. As minhas atividades como iyáloríÿa são muitas e nunca me
permitiram organizar tudo que eu recebia por revelação divina ou por gentileza
dos homens, o que muito me preocupava.
Como iniciada que sou, tenho tendência a resguardar os mistérios,
evitando retirar os véus que os encobrem. Por isso, não foi uma decisão nada
fácil fazer uso da tradição escrita para registrar os conhecimentos que adquiri
através da tradição oral. A ousadia veio da necessidade, mas a coragem veio da
permissão dos oríÿa. Diante da modernidade, essa ficou sendo minha única
alternativa para evitar deturpações da essência de uma religião milenar. Não sou
uma escritora! Sou uma iyáloríÿa que escreve! Sou uma iyáloríÿa que escreve com
o objetivo primeiro de não deixar perder a valiosa herança de nossos ancestrais.
Assim foi que optei por oferecer a todos, indistintamente, a riqueza da
filosofia yorubá, de maneira escrita, porém respeitosa, evitando expor
fundamentos que interessam, apenas, aos sacerdotes, por serem eles responsáveis
pela execução de rituais. A busca pela ampliação do conhecimento deve ter como
interesse principal o aprimoramento pessoal, visando uma amplificação das
capacidades enquanto ser humano.
Se
eu chamo meus colegas de academia de confrades e confreiras, é porque estamos
juntos na mesma confraria. No Ilé Àÿç Opo Afonjá, cumprimentamos uns aos outros
chamando-nos de irmãos, estamos em uma irmandade. Confraria, irmandade,
comunidade...elos unidos formando uma corrente por um objetivo comum. Na
Academia de Letras da Bahia, o objetivo é cultuar para preservar a tradição
escrita. No Ilé Àÿç Opo Afonjá, o objetivo é cultuar para preservar a tradição
oral. Sou uma acadêmica oriunda da família Opo Afonjá, que tem como Iyá Nlá – a
Grande Mãe – Ôba Biyi, Mãe Aninha, que no início do século XX escreveu um adurá
(uma reza), na língua yorubá, pedindo bênçãos para a construção do Terreiro de
Candomblé que tem como patrono o oríÿa ßàngó: seu élédá, o dono de sua
cabeça.
Mãe Aninha assim rezava em yorubá:
Ôba Kawoo
Ôba Kawoo Kabiesile
Kö mö èsi kunlè
Ôba Kawoo
Ôba Kawoo Kabiesile
Çkùn
Esse adurá, em tradução, quer dizer: "Xangô, Rei Leopardo cuja decisão e ação ninguém poderá questionar. Dê-me como resposta a construção completa desta casa". Através dessa reza em forma de cântico, Mãe Aninha pediu condições para construir o Ilé Àÿç Opo Afonjá. Ainda hoje, nós, seus descendentes espirituais, continuamos entoando sua oração, todas as quartas-feiras na "Casa de Candomblé" construída por ela, pedindo forças para nos mantermos firmes em nossas decisões; pedindo humildade para mudar as ações que nos sejam questionadas, apenas quando elas forem justas. Somos descendentes de Mãe Aninha! Somos filhos de ßàngó! Somos filhos da justiça! Somos educados, polidos e firmes. Somos filhos da resistência!
Se Mãe Aninha pediu a seu oríÿa, ßàngó, forças para construir seu "Terreiro de Candomblé", eu peço a meu oríÿa, Õÿösi, que dê força, saúde e prosperidade a mim e a todos aqui presentes, principalmente aqueles cujos corações são puros.
Mãe Stella puxa o cântico em homenagem a seu oríÿa:
Olówo mo npe mi ô iye iye
Ôdç mo pe mi olùbö ai pè
Mo npe mi ô iye iye
Ôdç mo pe mi olùbö ai pè
Mo npe ni ná së ni dé ná