A maioria das pessoas encara a velhice como um castigo,
vendo apenas desvantagens e não é bem
assim: como todas as fases da existência humana apresenta um lado positivo que
deve ser explorado. Uma das vantagens, talvez a principal, é que à medida que
avançamos na idade, utilizamos melhor o juízo crítico de nós mesmos e em
relação a tudo e a todos. Trocar a lágrima pelo sorriso, transformar o
desalento em esperança, a tragédia em comédia e conservar a serenidade diante
do desastre, é próprio dos mais velhos. E o velho sabe que a luz sempre vai
existir para afastar a escuridão, que a noite termina quando começa o dia e que
tudo na vida é finito. Todos nós, jovens e velhos, vivemos em relativo
equilíbrio porque a vida flui em permanente renovação.
Aos jovens fica a incumbência de permanecer no palco,
aperfeiçoando o desempenho do papel que lhes foi reservado na vida social,
conscientes que a cadeia de atos tem um final; se não alcançarem uma
performance satisfatória, sentirão na pele as consequências e a história registrará
e punirá o desempenho pífio do péssimo ator ou atriz e o espetáculo continuará.
Infelizmente, no Brasil, muitos jovens da atualidade encontrarão dificuldade
em seguir um script de boa qualidade.
O país mudou e esses não foram educados para entender o amplo significado do
preâmbulo da Carta Magna e suas cláusulas pétreas. O mais grave é que ignoram o
vaticínio de Aristóteles que é definitivo e irrecorrível: o homem é um ser
político. Assim sendo esses jovens continuarão na linha de fogo sem colete à
prova de balas e sem armas para o confronto. Usando uma expressão coloquial,
diria que “estão mais perdidos do que cego em tiroteio”. A visão superficial
que por vezes manifestam é preocupante
porque preferem ignorar que figuram no elenco como atores principais do
espetáculo que pode ser trágico se a representação não for levada a sério.
Não sei se seria para
chorar ou sorrir, perceber que muitos jovens dos nossos dias, não têm a
curiosidade de buscar informações sobre os motivos que levaram Charles Louis de
Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu (*1689/+1755) a escrever “O
Espírito das Leis,” irresignado com a monarquia absolutista. A teoria da
divisão dos poderes para formação do Estado, descrita na obra do filósofo do Iluminismo,
continua sendo fonte das doutrinas constitucionais liberais. Ao considerar a
república movida pela virtude, aponta a tripartição dos poderes como o caminho
para preservar os governos da corrupção. Assim, segundo Montesquieu, os três
poderes cumprem o papel que lhes foi reservado em harmonia e absoluta
independência, respeitados os limites da atribuição de cada um.
A formação do Estado é um espetáculo monumental. Imaginemos
um concerto regido por um maestro competente que não deve e não pode cometer
erros que comprometam o desempenho da orquestra e, em consequência, os músicos
seriam escolhidos entre os melhores no domínio de cada instrumento. Se o
maestro não tem a formação técnica exigida, não tem caráter ou é leviano e
irresponsável, escolherá seus músicos a
esmo para atender pedidos ou receber favores pessoais e o espetáculo resultará em fracasso. Se o maestro
não reconhece os erros cometidos e diz que “vai fazer o diabo” para realizar um
novo concerto, perderá a credibilidade provocando desconfiança e insegurança. No
concerto das orquestras ou no desconcertado mundo da política, quem paga a
conta é o povo: pagou muito caro o ingresso e não recebeu aquilo que foi
prometido, ou seja, a prova material de probidade
para cumprir as promessas e zelar pelo bem comum.
Voltando aos privilégios desfrutados pelos mais velhos,
conheci o Professor Doutor e, à época, Senador da República Josafá Marinho. Não
somente conheci: ele tinha a memória prodigiosa e lembrava meu nome cada vez
que nos encontrávamos em congressos ou palestras. E para minha felicidade,
foram muitos encontros enriquecedores. Certa feita, quando proferiu a aula
magna no reinício de um dos anos letivos
da UESC, comentando a Constituição de 1988, afirmou: “Se um país tem um executivo truculento, um legislativo
omisso e um judiciário submisso, não há Constituição
que resista”.
Com todo respeito aos que pensam que a oposição deve sair do
palanque, lembro que em um país democrático, a oposição pode e deve continuar
no palanque. É o seu lugar e vai continuar sendo no espetáculo dos poderes
tripartidos. O Congresso vai retomar o seu papel impedindo que nosso país seja
governado através de decretos-leis e medidas provisórias. O Brasil não tem
vocação para a monarquia, assunto já discutido oficialmente em plebiscito
décadas atrás; e muito menos para o totalitarismo, já experimentado com os
apelidos de Estado Novo e governos
militares. Nossa destinação democrática não será interrompida. Resistirá, como
tem resistido, com a força de um país que cultua a paz social, o bom senso e a
solução pacífica dos seus problemas.