Estamos
vivendo dias amargos. Principalmente a minha geração que viu florescer a
esperança e acreditou em um futuro de estabilidade e progresso para nossa
cidade, à qual ninguém negava a liderança social e política da região sul da
Bahia. Os itabunenses que eram crianças e adolescentes na década de cinquenta
certamente guardam a lembrança de dias melhores, estimulados pelo otimismo e
norteados por valores hoje postergados.
Em nosso passado não havia lugar para o desalento, a desesperança, a
indiferença e a omissão.
Nossa cidade, a região onde está situada, o Estado ao qual pertence, o País ao qual pertencemos, vivem uma fase de insegurança e incerteza. Aos poucos estamos perdendo a capacidade de indignação e passamos a encarar com naturalidade a morte dos sonhos, valores, princípios e tradições, permitindo que as novas gerações acreditem que não temos um passado a ser lembrado e cultuado como passaporte para o futuro. Estamos perdendo nossa identidade.
Nossa cidade, a região onde está situada, o Estado ao qual pertence, o País ao qual pertencemos, vivem uma fase de insegurança e incerteza. Aos poucos estamos perdendo a capacidade de indignação e passamos a encarar com naturalidade a morte dos sonhos, valores, princípios e tradições, permitindo que as novas gerações acreditem que não temos um passado a ser lembrado e cultuado como passaporte para o futuro. Estamos perdendo nossa identidade.
Não se trata do saudosismo próprio
das pessoas que nasceram no século passado. A verdade é que o mundo fica cada
vez pior no que se refere às relações entre os seres humanos. Até mesmo o
Brasil, dito “país bonito por natureza” e contagiado pela alegria da sua festa
maior, o Carnaval, esmorece diante da violência cotidiana e da ameaça de um
mosquito.
É claro que nossa agenda de
desventuras é bem mais extensa e já constituem desgastados clichês as
demonstrações de cinismo, ausência total de escrúpulo e incompetência daqueles
que comandam o país nos planos administrativo e econômico. É constrangedor para
o cidadão que trabalha e produz riqueza verificar que muitos dos
escolhidos pelo voto do povo
são agora personagens do noticiário policial.
Esse
cenário cinzento fica mais sombrio e triste quando vemos partir alguém que
percorreu, em nosso chão grapiúna, caminhos bem diferentes, contribuindo para o
fortalecimento de muitas das nossas instituições. É inevitável a tristeza
quando perdemos um verdadeiro cidadão, comprometido e participativo, digno
representante de uma geração que tinha raízes fincadas neste chão itabunense.
Estou falando de Nailton Ferreira Ramos, falecido em 9 de janeiro do ano que
dizem novo e já nos primeiros dias se faz portador de dores e tristezas, depois
de tantas promessas de alegria.
Nailton
era um dos mais velhos entre os adolescentes que cresceram na rua Ruy Barbosa.
Filho de Eugênio Simões Ramos e Odete Ferreira Ramos, nasceu em Ferradas em 25
de novembro de 1932, a mesma Ferradas de Jorge Amado, José Soares Pinheiro e
Valdelice Soares Pinheiro. Contemporâneo de Telmo Padilha (também do grupo de
jovens da rua Ruy Barbosa), estudou em
nosso Ginásio Divina Providência e Colégio Maristas, em Salvador,
graduando-se em Medicina Veterinária. Prestou serviços ao Instituto Biológico
da Bahia, GERFAB e Instituto de Cacau da Bahia – ICB, onde ocupou cargo de
direção. Era funcionário da Secretaria de Agricultura da Bahia e esteve à
frente do Sindicato Rural de Itabuna por mais de 20 anos, representando a
instituição junto à CEPLAC e Organização Internacional do Cacau. Entre os
cargos ocupados, destaca-se a direção da Associação Repetidora Assis
Chateaubriand, responsável pela implantação e distribuição do sinal de TV em
Itabuna e região. Entre suas atividades figurou também o comércio, como sócio
da Farmácia SANIVET. No meio judiciário foi juiz classista. Presidiu a
Cooperativa de Eletrificação Rural da Região Cacaueira e foi um dos fundadores
da Cooperativa de Agropecuaristas de Itabuna – COOGRAP.
Lembro
o currículo de Nailton, meu amigo, morador da rua da nossa infância e
adolescência, com a intenção de apresentar à nova geração um filho desta região
que marcou presença nos anos de ouro do cacau e aceitou desafios com entusiasmo
e dignidade, deixando um legado de trabalho e dedicação à comunidade.
Concedi
a palavra à saudade para lembrar e enaltecer um filho de Itabuna que exerceu em
plenitude o seu papel: foi um dos líderes de uma geração que sai do cenário. O exemplo de coragem e confiança
no futuro, dos filhos que se despedem, em uma cidade que luta para reencontrar
o caminho perdido em um passado às vezes esquecido, pode e deve ser usado como
estímulo e bússola. Com a palavra, os jovens, emissários do amanhã. Ocupem
nossos espaços e construam um mundo melhor. Não esqueçam que o mundo, para
todos nós, começa em nosso município.
*Sônia Carvalho de Almeida Maron
Presidente da Academia de Letras de Itabuna - ALITA