Poemas da Sexta-Feira Maior
Cyro de Mattos
Santa Cruz
Todo o
peso da terra
Com
ofensa e lenho
Aqui
deste desterro.
Pedras cor de vinho,
Setas de veneno
Dos que ladram.
Lábios de sede,
Botão que se abre
Na flor do perdão.
Até hoje a oferta.
A ternura como meta
Jogada na sarjeta.
SEXTA-FEIRA MAIOR
O sol
morre.
Turva
onda
O
mundo em aflição
Molha-me
de roxo.
Nada
valho.
Nada
sou de fato.
Prefiro
Barrabás,
Crucifico
o amor,
Sem dó
e lágrima
Até o
último gemido.
SONETO DA PAIXÃO
Ao pé
do Cristo todas as infâmias,
Ao pé
do Cristo todas as insônias,
Ao pé
do Cristo todas as intrigas,
Ao pé
do Cristo todas as refregas.
Ao pé
do Cristo todos os sedentos,
Ao pé
do Cristo todos os famintos,
Ao pé
do Cristo todos os horrores,
Ao pé
do Cristo todos os clamores.
Ao pé
do Cristo todos os insultos,
Ao pé
do Cristo todos os corruptos,
Ao pé
do Cristo todos os ladrões,
Ao pé
do Cristo todas as prisões.
Nessa
onda que nos leva como cães,
Cura-me,
ó Deus de todas as paixões.
PROCISSÃO DO SENHOR MORTO
Tudo é
roxo e ofensa e perdão.
A
tristeza está nos ares,
já
anda pelas veredas
e no
perfume dos caminhos.
No
ocaso da saudade ao longe,
na
flor do cacau que é espinho.
E
chega à igreja a procissão.
Tudo é
clamor e cruz e paixão
porque
uma coroa sensitiva
instalou-se
em Itabuna
com
fadiga e sede e fome
e
escorre suas dores
pelas
pedras cor de vinho,
mas no
sábado tudo é verde
e
claro sem o roxo e o espinho.
Os
sinos repicam na cidade
e um
dia novo está nas galhas,
no
coro de milhões de passarinhos.