"Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir, olhando o céu."
Antoine de Saint
Exupéry
Não é defeso aos sites ou blogs das academias de letras
registrar momentos de tristeza de segmentos sociais que integram a história de
uma cidade ao lado dos eventos e produções literárias que abordam atualidades.
Tais registros estão previstos no art. 4º, parágrafo único do Estatuto e o
projeto do nosso site reserva-lhes a primeira página do meio eletrônico de
comunicação. Enquanto instituição ligada
à vida da comunidade, nossa academia pode e deve homenagear filhos de Itabuna
que contribuíram para divulgar o melhor da cidade esquecida em um cantinho do
mapa da Bahia. Quando partem, continuam vivos em nossa memória.
Alguns conterrâneos que se destacaram e deixaram saudade
já tiveram espaço em nossa primeira página. No mundo do futebol, por exemplo,
Leo Briglia, astro do futebol itabunense, baiano e nacional, conhecido e
admirado por todos que acompanharam sua carreira nos gramados de clubes
cariocas foi lembrado com saudade por ocasião da despedida definitiva. O mesmo
ocorreu com Nailton Ferreira Ramos, participativo e presente nos momentos mais
significativos de um passado ligado ao crescimento sócio-econômico de Itabuna.
Ao lado de Consuelo Pondé de Sena e Myriam Fraga, membros da Academia de Letras
da Bahia, a primeira também nossa confreira, foram alvos da nossa mensagem de
saudade e carinho. São pessoas que deixaram marcas positivas, não passaram em
vão pela vida. Construiram, acrescentaram, fizeram amigos e deixaram um vazio
na vida dos amigos e da comunidade onde viveram. Semearam amor, enobreceram a
atividade escolhida como trajetória da existência e são lembradas com carinho.
É um privilégio de poucos.
O mesmo raciocínio se aplica ao itabunense que na vida
social da cidade, durante cinquenta e quatro anos, dedicou-se à divulgação da
alegria, beleza e requinte da sociedade itabunense com sensibilidade e bom
gosto, criando um estilo próprio no jornalismo que noticiava os fatos e eventos
dos clubes sociais e salões privados que tinham o respaldo financeiro do mundo
dourado do cacau. Carlos Henrique Brito do Espírito Santo, conhecido como
Charles Henry, o colunista social de Itabuna, despediu-se da cidade que tanto
amava no dia 17 do mês de junho, o mês alegre das festas juninas.
O jornalista singular conseguia associar suas festas em
homenagem à juventude (bailes de debutantes) e à beleza feminina ( concursos de
rainhas da beleza) ao sentimento de cidadania implícito no amor demonstrado à
sua cidade natal. Inquieto e dinâmico, também foi ligado ao esporte, o futebol,
recuperando o Itabuna Esporte Clube em fase crítica e conduzindo-o ao
vice-campeonato do Estado. Suas diversas atividades, sua contribuição nos
jornais e por último em um blog conhecido nas redes sociais, visavam registrar
elogios e estímulo, nunca a crítica destrutiva ou a ironia dos medíocres de
alma pequena.
Charles era alegre e feliz. Se os tristes e infelizes
perguntarem se choramos por sua partida, a resposta é afirmativa. Choramos,
sim, pelo amigo que partiu. E choramos principalmente por tudo que ele
representou: a cidade rica que distribuía glamour, vibrante e com a visão de
prosperidade de um povo altivo que caminhava a passos largos para o futuro,
oferecendo aeroporto, cinco cinemas e quatro teatros, jardins bonitos e bem
cuidados, saúde e educação de excelência. Acima de tudo a cidade que tinha
líderes verdadeiros, comprometidos com o passado e com os olhos e ações
voltados para o futuro.
Esta é a nossa mensagem. Homenageamos, na pessoa de
Charles Henry, uma geração que amava Itabuna e sofre assistindo o seu legado de
conquistas e progresso cada dia mais esquecido e degradado.
Sônia Carvalho de Almeida Maron
--------------------------------
--------------------------------
Saudade
dele...
O
movimento social dos socialites grapiúnas se originou dele, o maior colunista
social que Itabuna já teve em todos os tempos.
Ele representou, no seu auge, o
glamour das damas, senhoritas, misses, mulatas, nos eventos e festas marcantes,
cujo espírito inovador explodiu nos anos dourados de Itabuna.
Ele nasceu para brilhar. Os seus
olhos castanhos emanavam poesia; sua estética era ímpar; fazia tudo pela arte e
amor com que dedicava aos sonhos.
Será único.
Seu preciosismo focalizava, em cada
detalhes de sua existência, a vida.
Não se preocupava com a discrição; o
forte era aparecer com exotismo exagerado, mas no subjetivismo escondia o seu
lado romântico, e, por trás de sua beleza, algumas vezes, seu ar tímido.
Valorizou sua cidade nas datas
históricas; queria uma Itabuna no topo.
Suas preferências carnavalescas eram
lendárias; marajás, deuses, heróis, dentre outros mitos, brilhavam.
Na Beija-Flor, como um pavão garboso,
surgia uma simetria clássica e detalhista de rara beleza, formada pelas pedras
falsas e plumas.
Priorizar o inesquecível Charles
Henri é algo que faço com amor e respeito.
Com ele, abriu-se a extensão de sua
influência nos demais colunistas sociais; seu prestígio jamais há de ser
esquecido...
Fez da arte de produzir notícias uma
cátedra; sua escola será produtiva, um pioneiro nas letras do jornalismo urbano
e colunismo social; seu legado será eterno.
Os seus seguidores, amando-o ou
odiando-o, criticando-o, jamais deixarão de admirá-lo, graças ao seu estilo
impecável de um lorde tupiniquim.
Assim, ficará na lembrança das
gerações emergentes destas plagas.
Sione Maria Porto de Oliveira