João Carlos Teixeira Gomes
Sergio Moro cumpriu com seu dever: aceitou a denúncia contra Lula apresentada
pelo procurador Dallagnol, com veemência que incomodou o petismo. Mas o
professor de Direito Ivar Hartmann, da Fundação Getúlio Vargas, falando à imprensa
internacional, lembrou que o Ministério Público pode ser veemente ao acusar. A
obrigação de imparcialidade é da Justiça, não dos meios acusatórios.
O fanatismo é a pior miséria política da humanidade. Ele pode nascer da
ideologia, caso do fascismo, do nazismo, do stalinismo. Também pode resultar da
intolerância religiosa: a Igreja queimando hereges, o Estado Islâmico
decapitando padres. Por fim, o fanatismo pode surgir apenas da cegueira
política: é o caso da militância petista, quando se obstina em defender Lula e
Dilma no processo de corrupção que avassalou o Brasil. O objetivo do PT com a
ladroagem na Petrobras, usando empreiteiros e banqueiros oportunistas e
corruptores, era “a perpetuação criminosa no poder”, para repetirmos a frase de
Dallagnol. Em meu último artigo, eu já havia elogiado a deposição de Dilma como
um fato positivo para a rotatividade partidária no Brasil.< /o:p>
O objetivo essencial do PT era a permanência através da dobradinha Lula-Dilma.
Oito anos para Lula, mais oito anos para Dilma, e já iriámos para 16 anos,
depois 24 e, possivelmente, 32. Não sendo uma ação ideológica, pois o PT é um
partido sem ideologias, as vitórias eleitorais viriam pela soma de práticas
assistencialistas poderosas: em primeiro lugar, o Bolsa Família, que gerou um
rebanho de pobres cativos e encabrestados. O Bolsa Família passou a ser o
cabresto eleitoral do PT. Foi uma arma assustadora de dominação política, com
tintas de benemerência social, mas, fundamentalmente, antidemocrática, pois o
seu uso ameaçava a rotatividade partidária. Ao Bolsa Família, o PT acrescentou
mais assistencialismo: o “Mais Casa Minha Vida”, o sistema de cotas, os
empréstimos consignados. Fingindo beneficiar os assalariados, o PT, levando os
bancos a emprestar sem riscos, o que estava fazendo era fortalecer os
banqueiros que financiavam Genoíno na compra de votos dos aliados corrompidos
pelo mensalão. Essas práticas, em seu conjunto, instauraram no Brasil a
“democracia petista”, ou seja, a utilização prolongada do poder com o emprego
das armadilhas assistencialistas de dominação.
Como o partido é fraco de líderes, Lula ficou sem alternativa e foi obrigado a
escolher a inexperiente Dilma para a dobradinha funesta. As principais
lideranças já tinham abandonado o partido (Arruda Sampaio, Hélio Bicudo,
Heloisa Helena, Chico Alencar, Carlos Nelson Coutinho etc.) depois que a
traição começou, fato que ocorreu logo que Lula assumiu seu primeiro mandato,
impondo a aposentadoria que ele tinha combatido em Fernando Henrique Cardoso.
Para reforçar o processo de dominação, Dirceu tomou a iniciativa, a fim de
ganhar eleições, antes sempre perdidas, de colocar a serviço do PT dois
marqueteiros astuciosos. Veio primeiro Duda Mendonça, formado na escola de Maluf,
depois João Santana Patinhas, o gênio das artimanhas. De ambos nasceram
ideias como o “Lula lá”, “Lulinha Paz e Amor” e a transformação de Lula, o
“pobrinho” do Nordeste, no grande líder da pobreza nacional. Não fossem os
marqueteiros políticos os mestres dos ardis, arquitetos da enganação,
artífices da propaganda mentirosa. Pagos a peso de ouro.
Muitos dos expedientes para subjugar a sociedade com métodos escusos são comuns
a toda atividade política. A questão é que o PT exagerou, ao conceber meios
capazes, enfim, de lhe possibilitar “a perpetuação criminosa no poder”, queiram
ou não os fanáticos que negam a culpa clamorosa das suas lideranças, negando
também a verdade e a honra partidária.
João Carlos Teixeira Gomes
é escritor, poeta e jornalista.. Doutor na área de Letras. Membro da
Academia de Letras da Bahia. Autor de “O Telefone dos Mortos”, contos, “O
Labirinto de Orfeu”, poesia, e “Memórias das Trevas”, entre outros. Por seus
artigos corajosos em defesa da liberdade de imprensa, ganhou o apelido de “Pena
de Aço”.