Sônia Carvalho de Almeida Maron
A Academia de Letras de Itabuna tem
agora uma cadeira vazia. A cadeira de nº 28, tendo como patrono o poeta Firmino
Rocha, teve Maria Delile Miranda de Oliveira ocupando-a até o dia 16 de março
deste ano de 2018. O fato poderia
inspirar uma nota de pesar, como é costume nas homenagens às pessoas ilustres e
famosas. A nossa Maria Delile, especial, única, não pode receber homenagens que
traduzam pesar e tristeza porque são sentimentos passageiros que o tempo apaga
ou ameniza. A dor profunda de uma separação não resiste ao tempo. Somente a
saudade consegue reunir por inteiro a lembrança de quem partiu.
A dor da saudade é diferente. Doce e
mansa, sem desespero, sempre presente, acompanha nossas recordações e ressoa em
nossos passos. Não podemos lamentar ou sentir pesar. A presença de Delile
permanece nas flores que amava e sempre existirão antúrios e orquídeas para
trazê-la de volta ao nosso convívio; cada
vez que um de nós, seus amigos, conseguir provar que a honradez, a ética, a
lealdade, a coragem de lutar por um ideal são valores a serem preservados, a
saudade de Delile será uma força decisiva em nosso caminho.
As pessoas que conhecem e amam Delile
(assim mesmo, com os verbos no presente) sabem o magnetismo e força de sua
personalidade. Em suas palavras de professora, escritora e poeta, perpassam a
delicadeza e a ternura das suas Sendas e
Trilhas, continuam Tecendo Lembranças
e preservando Meu Tempo em Verso e
Prosa, tempo que se foi e também é nosso, em muitas lembranças e registros
da memória da cidade que amou profundamente e à qual dedicou sua vida como
educadora. As páginas dos seus livros, cujos títulos aparecem em itálico, estão
agora impregnadas da saudade que sempre será emissária da sua presença
palpável, doce e meiga. No convívio podia revelar um toque de austeridade e rigoroso
senso de justiça, marcando as vidas dos
seus amigos e de incontáveis alunos em sua longa trajetória como regente de
escolas públicas de 1º grau (atualmente
ensino fundamental) , período em que escreveu um livro técnico, Formação do Magistério de 1º Grau.
Em obediência ao tempo da “certificação”,
no qual a essência da pessoa não é considerada sem os títulos que amealhou,
lembramos que Maria Delile Miranda de Oliveira nasceu em Ruy Barbosa e a
infância e adolescência passou em Itabuna, onde cursou o 1º e 2º grau no
Colégio Divina Providência, diplomando-se em Magistério. Graduou-se em
Pedagogia pela Faculdade de Filosofia de Itabuna e seguiu distribuindo
conhecimento como Professora de Artes Industriais no Instituto Municipal de
Ensino Aziz Maron e Professora de História da Educação da Faculdade de Filosofia
de Itabuna. Pós-Graduada em Supervisão Escolar pela Universidade Católica de
Minas Gerais. Titular de Supervisão Educacional da Universidade Estadual de
Sta. Cruz e Coordenadora Geral de Estágios Supervisionados da mesma instituição
de ensino superior. Membro da Academia de Letras de Itabuna.
Em seu último livro, Meu Tempo em Verso e Prosa, fl. 39,
Delile presenteia os leitores desta mensagem com o poema Nossas Saudades:
“Só na partida,
Sei de teu amor.
Só na saída
Sei quanto te amo.
Não irás tão só,
Nem ficarei tão sozinha.
Levarás contigo, minhas
saudades,
e ficarão comigo, as
saudades tuas.”