Nesta quinta feira a literatura está em
festas. A celebração dos 100 anos de Clarice Lispector representa mais, muito
mais, para o fazer literário, o escrito na língua portuguesa, do que pode
avaliar nossa apelidada “vã consciência”.
Clarice, que se intitulava mais uma jornalista
do que escritora, errou em sua auto avaliação. Porque tudo que fez manejando
palavras e o estímulo do intelecto em forma de arte ficou revestido de um grau
superior e universal.
Por essa razão, acode-me a memória das
muitas conversas que mantínhamos dentro do Conselho de Literatura do Museu da
Imagem e do Som, de que ela participava a meu convite tanto na busca dos nomes
para os depoimentos destinados à posteridade quanto para escolha dos prêmios
Golfinho de Ouro e Estácio de Sá, os melhores do ano em literatura. Ao final da
tarde, o Conselho de Literatura já encerrado, eu levava Clarice ao seu
apartamento no Leme, na Gustavo Sampaio.
Evoco essa memória de amizade e admiração
porque já naquela época muitos críticos intuíam dentro e fora do Conselho que
caberia à Clarice uma consagração internacional. Sua literatura absolutamente
original para a época estimulava o futuro, projetava audácia, arquitetava
beleza e surpresa.
Seguem abaixo, tanto como farei amanhã com
seu vizinho de data de aniversário, Noel Rosa, algumas frases que definem a
essência do seu pensamento provocador.
1- “Não entendo, apenas sinto. Tenho medo
de um dia entender e deixar de sentir.”
2- “Até cortar os próprios defeitos pode
ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício
inteiro.”
3- “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe
no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver
ultrapassa qualquer entendimento.”
4- “Liberdade é pouco. O que eu desejo
ainda não tem nome.”
5- “O amor já está, está sempre. Falta
apenas o golpe da graça - que se chama paixão.”
6- “Mas há a vida que é para ser
intensamente vivida. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem
nenhum medo. Não mata.”
7- “Sou como você me vê. Posso ser leve
como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê
passar.”
8- “Que minha solidão me sirva de
companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o
nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.”
9- “Suponho que me entender não é uma
questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou
não toca.”
10- “E se me achar esquisita, respeite
também. Até eu fui obrigada a me respeitar.”
11- “Não quero ter a terrível limitação de
quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade
inventada.”
12- “Ela acreditava em anjo e, porque
acreditava, eles existiam.”
Como fiz questão de que o Pen Clube
Internacional do Brasil a homenageasse, repito aqui a frase que encimou toda a
correspondência do nosso Organismo Internacional.
2020 – ANO DOS 100 ANOS DE CLARICE
LISPECTOR
·
Ricardo
Cravo Albin é presidente do Pen Clube do Brasil.
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